A 54ª Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial foi marcada por discussões sobre mudança climática, desigualdade e transição dos combustíveis fósseis
Sem a presença de importantes figuras do Brasil, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), chega ao fim nesta sexta (19) a 54ª Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial de Davos. Do lado brasileiro, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, reafirmou o valor da natureza para a sobrevivência do planeta, além de defender o desmatamento zero e a transição dos combustíveis fósseis.
Na visão da ministra, “o Brasil voltou [ao cenário internacional] e se instalou”. “Conseguimos fazer uma aterrissagem em várias agendas. Neste primeiro ano de governo, podemos ver que a política ambiental de fato está se tornando transversal.”
Ela ainda destacou a necessidade de investir em recursos para mitigação e adaptação às mudanças do clima no país. Durante reunião do fórum, disse que a humanidade precisará decidir pelo fim dos combustíveis fósseis para combater a crise climática.
Reconstrução da confiança e novo modelo de crescimento são foco da conferência
Neste ano, um dos objetivos da reunião foi trabalhar a reconstrução da confiança, segundo Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Económico Mundial. Para ele, a confiança não é só um sentimento, mas um compromisso com a ação. “Devemos reconstruir a confiança – confiança no nosso futuro, confiança na nossa capacidade de superar desafios e, o mais importante, confiança uns nos outros.”
Em tempos de incerteza, polarização política, guerras e intensificação da crise climática, os participantes defenderam que é necessário um novo modelo de crescimento para o planeta. O intuito é equilibrar o crescimento e a produtividade com a complexidade da inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência.
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, reforçou que a globalização deve ser pensada de um jeito diferente de como vinha sendo, e que o crescimento econômico deve estar alinhado à sustentabilidade ambiental e prosperidade.
Assim como na COP28, que ocorreu entre os dias 30 de novembro e 13 de dezembro de 2023, as autoridades chamaram a atenção para a necessidade do comprometimento dos países e empresas com a redução das emissões de carbono. O principal argumento é de que os custos sociais, ambientais e financeiros já estão sendo sentidos e serão cada vez maiores e mais críticos.
Estudo mostra aumento das desigualdades
O estudo Desigualdade S.A., da Oxfam, divulgado durante a conferência em Davos, aponta para um cenário socioeconômico cada vez mais desigual. Desde 2020, os cinco homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas – de US$ 405 bilhões para US$ 869 bilhões. Mas para 5 bilhões de pessoas, a realidade foi oposta. A estimativa é que, nos próximos 10 anos, surja o primeiro trilionário do mundo.
O Brasil segue a mesma tendência: quatro dos cinco bilionários brasileiros mais ricos aumentaram em 51% sua riqueza desde 2020. Durante o mesmo período, 129 milhões de pessoas ficaram mais pobres no país.
Sete das 10 maiores empresas do mundo têm um bilionário como CEO ou principal acionista. O valor de mercado delas é maior do que a soma do PIB de todos os países da América do Sul e da África.
A discussão levantada pelo relatório foi a de que os bilionários, a partir de seu poder e monopólios, controlam a economia dos países e mantém uma relação direta com o aumento da pobreza.
Exclusão digital sofreu redução nos últimos anos, mas ainda é motivo de preocupação em Davos
Outro debate que ganhou força nesta edição foi a falta de inclusão digital, que acomete 2,6 bilhões de pessoas em todo o mundo. A questão não só exclui uma parcela da população do acesso à informação, como também a impede de ter contato com a cultura, o lazer, a saúde, a educação, entre tantos outros serviços que, atualmente, contam com ferramentas on-line.
Só no Brasil, são 36 milhões de pessoas excluídas do universo digital, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2022, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).
Ao longo do evento, foram discutidas iniciativas que visem a acessibilidade dessas ferramentas, para que mais pessoas possam estar plenamente incluídas na sociedade e economia digital no futuro.
Foto: Divulgação Ministério do Meio Ambiente.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
- Desigualdade salarial: líderes negros ganham 34% a menos
Entre todos os trabalhadores, brancos recebem 66% a mais - COP30 repetiu erros e revelou contradições da transição energética
Mobilização de povos amazônicos reforçou a centralidade dos povos originários na defesa dos ecossistemas e na denúncia da crise climática - COP30: entre vitrine climática, finanças e resistência popular
Conferência combinou áreas diplomáticas, estruturas corporativas e espaços da sociedade civil, em uma arquitetura que cada vez mais favorece interesses privados - Transição energética justa deve contemplar pobreza e gênero
Com milhões ainda sem acesso regular à eletricidade na América Latina, a transição energética precisa ser repensada com justiça e democracia - Biocombustíveis perdem espaço para petróleo e energia solar
Análise de isenções fiscais e empréstimos do BNDES mostram privilégio de petróleo e importação de painéis solares - Concessões dos parques: deu ruim
Excessos elitistas desacreditam as concessões de praças e parques em São Paulo. Dá para resolver? - Micro e pequenas empresas seguem ignoradas na agenda climática
Quatro em cada cinco negócios operam sem nenhuma rede de segurança financeira contra desastres - COP30 traz avanços, mas abaixo da expectativa
Acordo final inclui metas de financiamento e métricas de adaptação ao clima, mas sem consenso sobre fósseis, desmatamento e minerais - Por que a COP30 não cumpriu a promessa de ser uma “Cúpula do Povo”
Acordos foram fechados, mas elementos cruciais fizeram falta - Como as empresas podem ajudar as cidades
Parcerias público-privadas são um atalho para a inovação urbana mais rápida e efetiva – desde que os interesses da coletividade sejam sempre respeitados
