Placas de energia solar têm baixa durabilidade em áreas quentes e úmidas
POR SHUKLA PODDAR
Para atingir a meta de 82% de energia renovável na rede elétrica da Austrália até 2030, será necessário construir muito mais painéis de energia solar. No entanto, mesmo ao acelerarmos a taxa de instalação de painéis em telhados e fazendas em larga escala, o mundo continua se aquecendo e os eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes.
Os painéis solares precisam ficar do lado de fora, expostos a todas as condições climáticas. Eles são construídos para resistir ao calor, neve, chuva e vento, mas têm limitações. As mudanças climáticas significarão que muitos painéis podem se deteriorar mais rapidamente.
Nossa nova pesquisa analisa quais áreas da Austrália terão as piores condições para a degradação de painéis solares até 2059 – e o impacto disso no custo da energia. Descobrimos que a energia solar no norte quente e úmido da Austrália se degradará mais rapidamente, enquanto no interior árido e em climas mais moderados ao sul terá um desempenho melhor.
O que faz os painéis solares se degradarem?
Quando você procura instalar energia solar no seu telhado, a garantia provavelmente será um fator na sua escolha final. A maioria dos fabricantes de painéis solares oferece uma garantia de 25 a 30 anos, na qual asseguram que a produção de energia diminuirá em menos de 20% ao longo desse tempo.
A razão pela qual a produção de energia diminui é que os painéis solares se degradam lentamente ao longo do tempo. Mas diferentes climas, materiais e técnicas de fabricação podem levar a uma degradação mais rápida ou mais lenta.
- ESG Insights no seu e-mail – Grátis: nossa newsletter traz um resumo da edição mais recente da revista ESG Insights, além de notícias, artigos e outras informações sobre sustentabilidade.
Atualmente, a tecnologia solar dominante é o silício. Os módulos de silício se degradam devido ao estresse do ambiente, mudanças de voltagem e tensões mecânicas, já que as pastilhas do elemento são bastante rígidas e frágeis. Ambientalmente, umidade, radiação ultravioleta e temperatura são as principais causas de danos.
Condições mais quentes e úmidas podem acelerar a degradação de várias maneiras. Prevemos quatro tipos de degradação com as mudanças climáticas:
- Delaminação – O calor e a umidade podem fazer com que as ligações que mantêm juntas as diferentes camadas da célula percam aderência.
- Encapsulante descolorido – A luz solar intensa e a umidade extra podem danificar ou descolorir o encapsulante, polímero usado para aderir as camadas dentro da célula solar.
- Corrosão da fita – Se estiver mais úmido com mais frequência, aumenta a chance de acumulação de umidade e início da corrosão das conexões internas da fita da célula.
- Falha no circuito interno – As células solares sofrem flutuações de temperatura regulares, diárias e sazonais. Essas mudanças de temperatura ao longo do tempo podem fazer com que os circuitos falhem. Um mundo mais quente adicionará estresse extra aos circuitos internos, aumentando a probabilidade de falhas.
O que as mudanças climáticas causarão?
Nossos resultados preveem que as taxas de degradação aumentarão em toda a Austrália até 2059, tanto em cenários de emissões altas quanto baixas conforme estabelecidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Em um cenário de altas emissões, a degradação solar seria duas vezes mais rápida do que em um cenário de emissões mais baixas devido ao calor adicional. As fazendas solares seriam capazes de produzir menos energia e poderiam ter que substituir os painéis devido a falhas com mais frequência. Em média, isso significaria perder cerca de 8,5% da produção devido apenas à degradação adicional até 2059. Em um cenário de altas emissões, isso significaria um aumento de 10 a 12% no custo da energia.
Mas os efeitos não seriam sentidos igualmente. Nossos resultados mostram que a energia solar construída no quente e úmido norte da Austrália degradará a taxas especialmente altas no futuro em comparação com o centro árido, onde as condições são quentes, mas secas.
O que devemos fazer?
O calor é a principal forma pela qual os painéis solares se degradam e quebram na Austrália. À medida que o mundo se aquece, isso deixará de ser apenas um incômodo para se tornar um problema muito real.
Atualmente, poucos desenvolvedores de energia solar levam em consideração as mudanças climáticas ao comprar seus painéis. Eles deveriam fazer isso, especialmente aqueles que operam em áreas úmidas. Podem ser mais cuidadosos ao selecionar a localização de uma nova fazenda solar para garantir que seus módulos tenham menores chances de falha devido à degradação.
Para resolver o problema, será necessário incorporar novas formas de resfriamento dos painéis e melhorar os materiais utilizados. Também é necessário aprimorar os processos de fabricação e os materiais para evitar a acumulação de umidade dentro dos painéis.
Essas questões podem ser resolvidas. O primeiro passo é entender que há um problema.
Shukla Poddar – Pesquisadora de Pós-Doutorado da Escola de Fotovoltaica e Engenharia de Energias Renováveis, Universidade de Nova Gales do Sul, Austrália.
Este texto foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original em inglês.
Leia mais artigos do ESG Insights.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
- Diversidade e inclusão nas empresas: da política ao impacto real
Saiba como as empresas podem transformar políticas de diversidade e inclusão em ações concretas, com resultados reais e impacto positivo - Novo guia orienta setor financeiro sobre questões ESG no Brasil
Publicação propõe metodologia para que bancos, seguradoras e investidores incorporem critérios ESG às decisões financeiras - COP30 destaca potencial oceânico para reduzir 35% das emissões
Pacote com cerca de 70 soluções foi anunciado hoje (18) em Belém - Como a arquitetura pode se adaptar à crise climática?
Iniciativas vão de novos materiais a mudanças legais e apontam caminhos para construções mais sustentáveis – ainda marcadas por desigualdades - Menos carros, mais vida urbana
Conheça iniciativas que transformam a vidas nas cidades - Entenda os pontos em negociação na retal final da COP30
Conferência tem presença de ministros para articulação política - Crise climática afeta saúde mental de latino-americanos
Secas, furacões, ondas de calor e inundações deixam marcas profundas na saúde mental da população na América Latina, despertando atenção de especialistas - Informalidade urbana nas favelas: peça do sistema, não falha
A informalidade não é falha, ausência ou efeito do desenvolvimento urbano, mas elemento central do regime urbano nos países do Sul Global - O futuro da energia solar no quintal dos brasileiros
A descentralização da geração elétrica pode transformar bairros em protagonistas da transição energética – com mais educação, engajamento e justiça territorial - Dilemas da América Latina: transição, exploração e futuro climático
A América Latina liderará uma nova era de desenvolvimento sustentável ou apenas dará um novo nome para o velho extrativismo?
