A adoção de práticas sustentáveis não é mais opcional, mas uma exigência para competitividade e a inovação
POR LEANDRO DE ABREU
No mundo empresarial moderno, testemunhamos transformações sem precedentes, impulsionadas por um compromisso cada vez maior com a sustentabilidade, responsabilidade social e questões ESG.
Esse movimento não é apenas uma tendência passageira, mas uma evolução fundamental na forma como as empresas operam e são percebidas no mercado global.
Com um aumento projetado de 12,9% ao ano em investimentos direcionados a ações sustentáveis, conforme destacado por estudos recentes da consultoria PwC, fica claro que integrar essas práticas não é apenas benéfico para o planeta e para a sociedade, mas também para o crescimento e a resiliência das organizações.
À medida que o mundo se depara com desafios urgentes como as mudanças climáticas, a equidade social e a necessidade de uma governança corporativa mais transparente, empresas de todos os setores estão sendo chamadas a repensar suas estratégias e operações. Cenário que evidencia uma verdade incontestável: a sustentabilidade transcende o status de iniciativa ética para se tornar um pilar central da estratégia empresarial.
A tecnologia como aliada do meio ambiente
Os eventos climáticos extremos recentes têm reforçado a urgência em abordar as emissões de CO₂, colocando as organizações na linha de frente dos esforços para mitigar os impactos das mudanças climáticas, principalmente, por meio da inovação. É o caso do uso do blockchain em prol da sustentabilidade.
Essa tecnologia oferece uma abordagem inovadora para a preservação do meio ambiente, com potencial para transformar significativamente as práticas de sustentabilidade.
Por meio da criação de sistemas transparentes, confiáveis e imutáveis, o blockchain permite o rastreamento e a verificação de ações voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa e à promoção de práticas sustentáveis. Isso inclui a manutenção de registros transparentes, a rastreabilidade de emissões, a compensação de carbono e o compartilhamento de dados, contribuindo efetivamente para o controle dos gases de efeito estufa e a proteção do planeta.
A implementação de contratos inteligentes (programas autoexecutáveis que operam na tecnologia de blockchain) e a tokenização de ativos permitem um rastreamento preciso das emissões ao longo de cadeias de produção e fornecimento, promovendo responsabilidade ambiental e facilitando a compensação de carbono de forma descentralizada e eficiente.
Os créditos de carbono digitais verificáveis permitem que empresas e indivíduos compensem suas emissões de maneira transparente e confiável, evitando fraudes e manipulações. Portanto, o blockchain emerge como uma ferramenta vital na luta contra as mudanças climáticas, alavancando a tecnologia para promover a sustentabilidade global.
Legislação no Brasil e no mundo
Tramita no Senado Federal brasileiro o Projeto de Lei 2148/2015 que visa regulamentar o mercado de carbono no Brasil e apresenta diversos pontos-chave focados na mitigação das emissões de gases de efeito estufa, bem como na promoção de práticas empresariais sustentáveis. Ao propor alinhar práticas empresariais com a necessidade global de redução de emissões de gases de efeito estufa, esse projeto de lei representa um passo significativo na agenda ambiental do país.
No cenário internacional, emerge uma nova legislação da União Europeia que será implementada este ano: a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD, sigla em inglês para Corporate Sustainability Reporting Directive). Esta medida promete representar uma transformação substancial na forma como as corporações comunicam suas atividades e políticas relacionadas à sigla ESG.
Abrangendo todas as grandes empresas da UE e aquelas de fora que têm atividades significativas no mercado europeu, a CSRD vai exigir relatórios detalhados sobre o impacto ambiental, social e de governança das companhias. Isso inclui questões como recursos hídricos, poluição, biodiversidade, direitos humanos e ética empresarial, entre outros, com a obrigatoriedade de que os relatórios sejam tanto qualitativos quanto quantitativos, cobrindo perspectivas de curto a longo prazo.
Com base nos Padrões Europeus de Relatórios de Sustentabilidade (ESRS, sigla em inglês para European Sustainability Reporting Standards) elaborados pelo European Financial Reporting Advisory Group (EFRAG) e divulgados no final de 2023, esses relatórios têm como objetivo contribuir para a harmonização global das práticas de sustentabilidade. A CSRD também irá requerer auditoria e certificação independentes das informações reportadas, visando assegurar a confiabilidade e transparência, e buscando nivelar a importância dos relatórios financeiros com os de sustentabilidade.
Com essas transformações, o cenário ESG representa muitos desafios e oportunidades para o mundo empresarial. A adoção de práticas sustentáveis não é mais opcional, mas uma exigência para garantir a sobrevivência, a competitividade e a inovação a médio e longo prazos. As organizações que se anteciparem e se adaptarem a essas mudanças e exigências, estarão melhor posicionadas para liderar a transformação para um futuro sustentável.
Leia mais artigos do ESG Insights.
Leandro de Abreu – CEO da Prospera + Greener.
- Newsletter ESG Insights – Grátis: receba um resumo semanal de notícias no seu e-mail.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
- Brasil tem chance de liderar diálogo global sobre a questão climáticaCaberá ao Brasil liderar uma cúpula sobre mudanças climáticas que pode ser decisiva em um momento crítico para o planeta
- Lei que regula mercado de carbono no Brasil é sancionadaIndústrias poluentes poderão compensar emissões por meio da compra de créditos de carbono para fins de preservação ambiental
- Desmatamento e perda de biodiversidade são ameaça à segurança alimentarPerda da cobertura florestal provoca um desequilíbrio em toda a cadeia alimentar dos ecossistemas
- Novas regras podem dificultar entrada de produtos agrícolas brasileiros na EuropaLegislação que reforça fiscalização sobre produtos gerados sem respeito ao meio pode dificultar interesses comerciais do Brasil
- Democratizando a felicidade no trabalho: revendo a escala 6×1Esquema de trabalho 4×3 ainda é um privilégio de uma elite corporativa, enquanto maioria enfrenta longas jornadas
- Projeto de mercado de crédito de carbono volta à CâmaraCom a aprovação no Senado com mudanças, texto retorna para nova análise dos deputados
- Novo plano de restauração pode deslanchar o Código FlorestalAté 2030, o Brasil pretende restaurar 12 milhões de hectares com a implementação do Código Florestal pelo Planaveg
- Capital do ouro ilegal resiste a operações contra o garimpo na AmazôniaAs operações contra o ouro ilegal levaram à revolta dos garimpeiros, que tentam retomar a atividade
- Flexibilização da legislação impulsiona o desmatamento do Cerrado na BahiaDiferentemente da Amazônia, onde a ilegalidade é regra, no Cerrado baiano é o desmatamento autorizado que mais preocupa
- Crise climática, social e da biodiversidade estão interligadasRevisar o Código Florestal, fortalecer práticas agroflorestais e fazer a transição para um agronegócio de baixo carbono são algumas das ações fundamentais para o Brasil reduzir suas emissões