Fundos de fomento ao crescimento econômico reduziram as diferenças de gênero em quase todos os países analisados
POR BEDASSA TADESSE
A desigualdade de gênero não é apenas injusta – ela também é um entrave para a economia mundial. Dar às mulheres as mesmas oportunidades econômicas que os homens acrescentaria cerca de US$ 12 trilhões ao produto interno bruto global até 2025, segundo uma análise do McKinsey Global Institute. Isso representa um aumento de 11%.
A ligação entre o empoderamento das mulheres e o crescimento econômico está bem estabelecida. Quando as mulheres são incluídas no poder econômico, elas investem mais em suas famílias, criando um ciclo de resultados positivos que atravessa gerações. A participação delas na força de trabalho leva a uma maior produtividade e traz perspectivas diversas que melhoram a tomada de decisões e impulsionam a inovação.
Reconhecendo esses benefícios, os governos e organizações não governamentais têm direcionado cada vez mais a ajuda – fundos fornecidos aos países em desenvolvimento para fomentar o crescimento econômico – para promover o empoderamento das mulheres.
Como economista que estuda o desenvolvimento, eu queria saber: será que todo esse dinheiro realmente faz diferença? Então, em uma recente pesquisa, meus colegas e eu analisamos o impacto da ajuda relacionada ao gênero sobre a desigualdade, usando dados de 118 países em um período de 13 anos, de 2009 a 2022.
- ESG Insights no seu e-mail – Grátis: nossa newsletter traz um resumo da edição mais recente da revista ESG Insights, além de notícias, artigos e outras informações sobre sustentabilidade.
O que descobrimos foi animador: a assistência conectada a gênero reduziu a desigualdade na maioria dos países que estudamos.
Analisamos dois tipos de ajuda. A primeira é o financiamento de projetos que vinculam a segmentação a metas econômicas mais amplas. Os especialistas em desenvolvimento chamam isso de “ajuda significativa relacionada a gênero”. Há, também, o financiamento que visa explicitamente à igualdade de gênero. Os especialistas chamam isso de “principal ajuda relacionada a gênero”.
Descobrimos que a primeira abordagem reduziu de forma consistente e relevante a disparidade entre mulheres e homens em 115 dos 118 países que estudamos. A segunda teve efeitos estatisticamente significativos em 85 países. Ela também pareceu ser muito mais eficaz quando combinada com a primeira abordagem.
Nossas descobertas sugerem fortemente que a integração em esforços de desenvolvimento mais amplos é crucial para a promoção da igualdade. O gênero e o desenvolvimento estão intrinsecamente interligados, um fato muitas vezes ignorado. Reconhecer esse vínculo é fundamental para alcançar um crescimento sustentável e inclusivo.
Histórias de sucesso de empoderamento das mulheres
Isso tudo pode parecer bastante abstrato, mas nossa pesquisa mostra que o mundo progrediu na vida de pessoas reais nas últimas décadas. Casos de vários países comprovam o quanto o progresso é possível.
Ruanda: Após o genocídio de 1994, Ruanda fez um esforço conjunto para reconstruir sua sociedade com a igualdade de gênero em seu núcleo. Atualmente, as mulheres ocupam 61% dos assentos parlamentares, a percentagem mais alta do mundo. Essa notável conquista é, em parte, resultado direto de políticas com foco em gênero e investimentos significativos no empoderamento político das mulheres. O progresso de Ruanda ilustra como a vontade política e a ajuda focada no tema podem transformar uma sociedade.
Bangladesh: Apesar dos papéis tradicionais, Bangladesh fez avanços significativos na igualdade de gênero, particularmente na educação e economia. Por meio de programas direcionados, como o Female Secondary School Stipend Program e iniciativas de microfinanciamento de organizações como o Grameen Bank, Bangladesh, observou melhorias substanciais na educação de meninas e no empoderamento econômico das mulheres. Essas iniciativas contribuíram para o declínio das disparidades de gênero e estimularam o crescimento econômico.
Etiópia: Nas últimas décadas, a Etiópia investiu muito em educação, principalmente para meninas. Os programas destinados a aumentar o número de matrículas escolares e reduzir as taxas de evasão escolar entre as meninas levaram a melhores taxas de alfabetização e melhores resultados de saúde. Esses avanços educacionais capacitaram as mulheres econômica e socialmente, reduzindo a desigualdade de gênero.
Apesar do progresso alcançado, essas conquistas não são inabaláveis. A instabilidade pode desfazer rapidamente anos de progresso. O recente retrocesso das políticas no Afeganistão, no Brasil e nos Estados Unidos mostra a necessidade de vigilância permanente.
Dar poder às mulheres também dá poder aos homens
As discussões sobre a importância de reduzir a desigualdade de gênero geralmente giram em torno dos benefícios diretos para mulheres e meninas. Mas todos, inclusive os homens, têm a ganhar em uma sociedade mais igualitária.
Em primeiro lugar, a maior participação e poder feminino no mercado de trabalho leva a economias mais fortes, o que beneficia a todos. Pesquisas demonstram que a equiparação promove comunidades mais coesas e solidárias. Da mesma forma, os locais de trabalho que priorizam a igualdade de gênero tendem a ter uma melhor dinâmica de equipe, maior satisfação dos funcionários e mais produtividade. Esses são ganhos para todos, independentemente do gênero.
A paridade traz benefícios distintos para os homens. Isso ocorre porque alivia as pressões associadas à masculinidade tradicional, o que pode levar a uma melhor saúde mental. Por exemplo, em sociedades com maior igualdade de gênero, os homens relatam estar mais felizes com a vida e menos estressados e deprimidos.
Isso prova que os benefícios não se limitam a mulheres e meninas; eles se estendem a todos os membros da sociedade. Todos têm interesse em contribuir para o progresso.
Melhores práticas respaldadas por pesquisas
Os governos e os profissionais de assistência devem seguir cinco passos para o sucesso, a fim de proteger os avanços obtidos na igualdade de gênero e continuar progredindo:
1. Manter o fluxo de ajuda: o apoio financeiro e técnico contínuo às iniciativas de igualdade é vital. Nossa pesquisa sugere que os formuladores de políticas devem se concentrar na integração das considerações de gênero em todos os projetos de desenvolvimento.
2. Envolver todos: o envolvimento de homens e meninos nos esforços ajuda a desafiar e mudar normas prejudiciais, promovendo uma sociedade mais inclusiva.
3. Adaptar estratégias: embora a ajuda tenha um efeito geral, as iniciativas de igualdade devem considerar os contextos sociopolíticos e culturais de cada país. A adaptação das estratégias a esses contextos garante que as intervenções sejam relevantes e práticas.
4. Fortalecer as instituições: instituições e governança eficazes são cruciais para implementar e sustentar com sucesso as ações de paridade. Os esforços para melhorar a governança e reduzir a corrupção aumentam o impacto da ajuda.
5. Promover a educação: as escolas são uma ferramenta poderosa para promover a correspondência de gênero. Investir em programas educacionais que capacitem mulheres e meninas e aumentem a conscientização sobre as questões relacionadas é essencial para mudanças a longo prazo.
A igualdade de gênero é a pedra angular de uma sociedade justa e próspera. Os benefícios do empoderamento das mulheres vão muito além dos beneficiários imediatos, promovendo o crescimento econômico, a estabilidade política e a coesão social. Nossa pesquisa mostra que os esforços para empoderar as mulheres realmente valem a pena – literalmente, e não só.

Bedassa Tadesse – Professor de Economia na University de Minnesota Duluth.
Este texto foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.
Leia mais artigos do ESG Insights.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
- Pesquisadores buscam ampliar o turismo sustentávelEstudiosos apoiados pela UE trabalham para criar estratégias de turismo que promovam o patrimônio, garantindo a sustentabilidade a longo prazo
- Como cidades inteligentes viraram cidades vigiadasA promessa da eficiência tecnológica na segurança urbana não deve obscurecer questões fundamentais sobre privacidade e direitos humanos
- Empresas sustentáveis no Brasil: maioria ainda está em estágios iniciais de ESGÍndice da KPMG aponta que 76% das empresas permanecem em estágios inicial ou intermediário de ESG
- Produção de plástico reciclado no Brasil cresceu 8% em 2024A produção de plástico reciclado atingiu 1,012 milhão de toneladas em 2024, 7,8% a mais do que em 2023
- Desemprego em agosto é de 5,6% e repete mínima históricaO país tinha, no fim de agosto, 6,1 milhões de pessoas desocupadas, o menor contingente da série
- Brasil cria 147 mil empregos com carteira assinada em agostoO balanço é do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) divulgado nesta segunda-feira (29)
- Gentrificação: o uso das cidades como mercadoriaGentrificação planejada, com glamurização dos espaços, estimula o turismo e afasta os moradores tradicionais
- As lições climáticas da Espanha que podem inspirar o BrasilCorredores ecológicos, sombreamento, pavimentos permeáveis e refúgios climáticos: exemplos úteis
- Os subsídios ao petróleo ainda fazem sentido?Eliminar de forma programada os subsídios aos combustíveis fósseis pode ajudar a avançar na agenda ambiental
- COP30 é oportunidade única para inovação sustentávelEmpresas querem ajudar a transformar COP30 em um catalisador de ações coletivas, inovação e justiça climática