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Eucalipto no Cerrado seca nascentes e expulsa pequenos produtores

Lei sancionada em 2024 retirou a exigência de licenciamento ambiental para o cultivo, favorecendo grandes investidores e empresas estrangeiras (Foto: Alfribeiro/Getty Images)

Avanço descontrolado de eucalipto no Cerrado está secando nascentes, empobrecendo agricultores e inviabilizando agricultura de subsistência

POR SHANNA HANBURY

Um boom de plantação de eucalipto no Cerrado brasileiro está secando terras e nascentes de água, dificultando a agricultura de subsistência, disseram autoridades locais e agricultores à Mongabay.

Adilso Cruz, um fazendeiro de 46 anos do assentamento Alecrim, no Mato Grosso do Sul, relata que a escassez de água começou por volta de 2013, coincidindo com o crescimento das plantações de eucalipto na região, e piorou desde então.

“Os riachos que costumavam funcionar o ano todo começaram a fluir menos, secando e depois levando muito tempo para encher novamente”, diz Cruz. “A grama está sofrendo porque a água está desaparecendo da camada superficial do solo.”

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“Eu tinha 70 cabeças de gado. Agora tenho 42, e vou precisar vender mais”, acrescenta. À medida que fazendeiros vendiam suas terras para plantações de eucalipto, também vendiam seus rebanhos, fazendo com que o preço do gado despencasse. “Eu estimo uma queda de cerca de 45% na renda”, relata Cruz.

Um estudo liderado por Valticinez Santiago, vice-secretário de Meio Ambiente de Selvíria, um município com alta produção de eucalipto, descobriu que as nascentes localizadas a 50 metros das plantações, o mínimo legal, secaram ou foram severamente degradadas.

Santiago relatou à Mongabay que eles usaram imagens de satélite para mapear 400 nascentes cercadas por fazendas de eucalipto e agora recomendam expandir a zona de amortecimento para 500 metros, para proteger melhor as fontes de água.

Boom de fazendas de eucalipto no Cerrado

A extensão das fazendas de eucalipto no Mato Grosso do Sul quadruplicou em 15 anos, passando de pouco mais de 375 mil hectares em 2010 para 1,6 milhão de hectares em maio de 2025.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma lei em maio de 2024 que elimina a necessidade de licenças ambientais para o eucalipto. Na prática, relata Santiago à Mongabay, as autoridades não podem mais acessar terras privadas para avaliar os impactos ambientais sem um mandado, o que é difícil de obter sem evidências no local.

Cerca de 90% das fazendas são de propriedade de grandes bancos de investimento.

Empresas como Apple, Meta e Microsoft investiram milhões em eucalipto para compensar suas emissões de carbono. No entanto, críticos dizem que o eucalipto não é eficaz no sequestro de carbono, pois as árvores são colhidas a cada seis anos e transformadas em celulose para papelão e papel higiênico, o que significa que qualquer carbono armazenado é facilmente liberado na atmosfera.

Cruz conta que cerca de metade das famílias já deixou seu assentamento. Os que restam estão lutando para sobreviver e muitas vezes precisam de trabalho extra com as empresas de eucalipto.

“Muitas pessoas aqui acabam fornecendo mão de obra para as mesmas pessoas que estão tirando sua capacidade de produzir alimentos e ter liberdade financeira”, diz Cruz. “Esta terra era algo pelo qual lutamos. Foi um sonho. Mas muitos estão vendo esse sonho desmoronar e se sentem forçados a se resignar”.

Este texto foi republicado de Mongabay sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.

Foto: Alfribeiro/Getty Images
Lei sancionada em 2024 retirou a exigência de licenciamento ambiental para o cultivo, favorecendo grandes investidores e empresas estrangeiras

 

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