Temas como mudanças climáticas, relatórios de sustentabilidade e diversidade e inclusão ganham espaço nas agendas ESG
POR BÁRBARA VETOS
A pauta ESG nunca esteve tão em alta, buscando lidar com os desafios sociais e ambientais que se intensificaram nos últimos anos. De acordo com a pesquisa ESG Radar 2023, os investimentos das empresas na pauta ESG devem chegar a US$ 53 trilhões (R$ 273 trilhões) até 2025.
Entre os empresários brasileiros, 51% consideram uma tendência relevante para o mundo atual, segundo levantamento da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham). Essa preocupação tem se materializado por meio de políticas de investimento em ações alinhadas a compromissos sustentáveis.
“Não adianta o mundo estar entrando em ebulição em uma série de questões e as empresas estarem focando em outras pautas”, reflete Iara Vicente, CEO da Consultoria Nossa Terra Firme e curadora do evento ESG Land. “Devemos assumir os principais desafios da humanidade como parte da missão de valor das empresas.”
Conheça três tendências para o futuro da agenda ESG no Brasil e no mundo, segundo Iara Vicente e Leandro Abreu, CEO da Prospera+Greener.
Emergência climática
Em 2023, o mundo parece ter sofrido ainda mais com as consequências da crise ambiental. No Brasil, as fortes ondas de calor, por exemplo, chamaram a atenção de toda a população. A tendência é que, com a intensificação das mudanças climáticas e da crise ambiental, as condições fiquem cada vez mais extremas.
Segundo Leandro Abreu, CEO da Prospera+Greener, a aceleração da transição energética é um ponto-chave para o futuro do planeta. “Até algum tempo atrás ainda existia um debate [sobre as mudanças climáticas], mas agora até os céticos já entenderam que não tem como voltar atrás, todo mundo tem que agir.” Para ele, fontes alternativas ao combustível fóssil ganharão importância nesse contexto, impulsionando o desenvolvimento de tecnologias mais limpas e sustentáveis.
Vicente avalia que a questão climática será uma grande pauta dentro da agenda ESG, principalmente no que diz respeito aos mercados de carbono. “A gente tem um desafio de fazer com que todo esse dinheiro que circula nesse mercado realmente represente ações de redução de desmatamento, restauração florestal e absorção de carbono.” Ela diz que é hora de as empresas enxergarem o tema não apenas como um risco, mas como uma oportunidade de atuação.
Relatórios de sustentabilidade das empresas
A transparência dos relatórios ESG das empresas é uma forma de prestação de contas importante. Por meio da divulgação de índices e ações adotadas, os cidadãos e todos os stakeholders ficam cientes do impacto social e ambiental que as companhias desempenham.
Para Abreu, a sinceridade na emissão desses documentos deve ser o foco, assim como uma governança estruturada na corporação. “A transparência vai ser fundamental para que suas práticas ambientais e sociais sejam aceitas, válidas e, comprovadamente, impactantes.”
“A tendência natural é que as empresas comecem a olhar o ESG em seus valores e promessas, em especial nos relatórios anuais de sustentabilidade”, aponta Vicente. A CEO explica que esses documentos são imprescindíveis para controlar o risco de fraude e greenwashing.
Caso contrário, é possível que haja uma crise de confiabilidade das empresas, trazendo um impacto negativo e uma instabilidade dos parâmetros ESG.
Diversidade e inclusão
Iniciativas como vagas afirmativas, comitês de diversidade e políticas de inclusão para grupos minorizados também são uma tendência a ser acompanhada pelo mercado e seus consumidores.
Abreu reforça que é importante que haja a criação de ambientes de trabalho diversificados e inclusivos, a promoção da igualdade de gênero e o engajamento em questões de justiça social por parte das empresas.
“Se eu estou olhando para práticas de impacto social, tenho que entender essa realidade e necessidade [da inclusão]. O mercado já está entendendo isso.” Ele relembra que esse cenário vem mudando e os benefícios de uma maior pluralidade no ambiente de trabalho são hoje compreendidos com mais facilidade.
Para Vicente, existe uma tendência global a considerar a diversidade como um valor e um fator positivo no processo de contratação. “Estamos avançando com essa discussão enquanto sociedade, é uma popularização da pauta ESG.”
Ela defende uma agenda ESG que seja construída de forma colaborativa. “É triste ver investimentos bem-intencionados em ESG que, pela falta de diálogo com os especialistas e públicos-alvo das ações, acabam gerando o efeito inverso.” Segundo Vicente, quando as iniciativas são feitas sem a participação do outro, elas reproduzem uma dinâmica de “hierarquia de poder colonial” que pode levar a grandes equívocos.
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