Robôs não deve gerar desempregos, e sim trabalhar ao lado de profissionais
POR GARETH WILLMER
Por décadas, a chegada de robôs no local de trabalho tem sido uma fonte de ansiedade pública por temer que eles substituam os trabalhadores e gerem desemprego.
Agora que robôs humanoides mais sofisticados estão surgindo, o quadro está mudando: alguns veem os robôs como companheiros de equipe promissores em vez de concorrentes indesejados.
Colegas Cobot
A empresa italiana de automação industrial Comau desenvolveu um robô que pode colaborar com, e aumentar a segurança de, trabalhadores em ambientes estritos de salas limpas nas indústrias farmacêutica, cosmética, eletrônica, de alimentos e bebidas. A inovação é conhecida como robô colaborativo ou cobot.
O cobot com braços da Comau, projetado para tarefas de manuseio e montagem, pode alternar automaticamente de uma velocidade industrial para uma mais lenta quando uma pessoa entra na área de trabalho. Esse novo recurso permite que apenas um robô seja usado em vez de dois, maximizando a produtividade e protegendo os trabalhadores.
“Ele avançou ao permitir um modo duplo de operação”, disse o roboticista da Universidade de Patras, na Grécia, Sotiris Makris. “Você pode usá-lo como um robô convencional ou, quando estiver em modo colaborativo, o trabalhador pode agarrá-lo e movê-lo como um dispositivo auxiliar.”
Makris foi coordenador do recém-concluído projeto Sherlock, financiado pela União Europeia (UE), que explorou novos métodos para combinar com segurança capacidades humanas e robóticas do que considerava um ângulo de pesquisa frequentemente negligenciado: bem-estar psicológico e social.
Mais trabalhos criativos e inclusivos
A robótica pode ajudar a sociedade realizando tarefas repetitivas e tediosas, liberando os trabalhadores para atividades mais criativas. As tecnologias robóticas que podem colaborar de forma eficaz com os trabalhadores podem tornar os locais de trabalho mais inclusivos – por exemplo, ajudando pessoas com deficiência.
É importante aproveitar essas oportunidades à medida que a estrutura e o perfil etário da força de trabalho europeia mudam. Por exemplo, a proporção de pessoas de 55 a 64 anos aumentou de 12,5% dos funcionários da UE em 2009 para 19% em 2021.
Ao lado da dimensão social, há também o benefício econômico da maior eficiência industrial, mostrando que um não necessariamente precisa ocorrer em detrimento do outro.
“Há uma competição crescente em todo o mundo, com novos avanços na robótica”, disse Makris. “Isso exige ações e melhorias contínuas na Europa.”
Makris cita os robôs humanoides, que estão sendo desenvolvidos pela fabricante de automóveis Tesla, liderada por Elon Musk. Robótica vestível, membros biônicos e trajes de exoesqueleto também estão sendo desenvolvidos, prometendo aprimorar as capacidades das pessoas no local de trabalho.
Ainda assim, a onda de rápido avanço da robótica apresenta grandes desafios quando se trata de garantir que eles sejam efetivamente integrados ao local de trabalho e que as necessidades individuais das pessoas sejam atendidas ao trabalhar com eles.
Exoesqueletos para trabalhos manuais pesados
O projeto Sherlock também examinou o potencial de exoesqueletos inteligentes para apoiar os trabalhadores no transporte e manuseio de peças pesadas em lugares como oficinas, armazéns ou locais de montagem. Sensores vestíveis e inteligência artificial foram usados para monitorar e rastrear os movimentos humanos.
Com esse feedback, a ideia é que o exoesqueleto possa se adaptar às necessidades da tarefa específica e ajudar os trabalhadores a manter uma postura ergonômica para evitar lesões.
“Usar sensores para coletar dados de como o exoesqueleto funciona nos permitiu ver e entender melhor a condição humana”, disse Makris. “Isso nos permitiu ter protótipos de como os exoesqueletos precisam ser redesenhados e desenvolvidos no futuro, dependendo de diferentes perfis de usuários e diferentes países.”
O projeto Sherlock, que terminou recentemente após quatro anos, reuniu 18 organizações europeias de vários países, da Grécia à Itália e Reino Unido, trabalhando em diferentes áreas da robótica.
A diversidade de participantes permitiu ao projeto aproveitar uma ampla variedade de perspectivas, o que Makris disse também ser benéfico à luz das diferentes regras nacionais sobre a integração da tecnologia robótica.
Como resultado da interação desses sistemas robóticos com as pessoas, o software é avançado o suficiente para orientar “desenvolvimentos futuros sobre os tipos de recursos a ter e como o local de trabalho deve ser projetado”, disse Makris.
Velhas mãos, novas ferramentas
Outro projeto financiado pela União Europeia, o Co-Adapt , que terminou neste ano, usou cobots para ajudar os idosos a navegar no local de trabalho digitalizado.
A equipe do projeto desenvolveu uma estação de trabalho adaptável equipada com o cobot para auxiliar as pessoas em tarefas de montagem, como fazer um telefone, carro, brinquedo – ou combinar qualquer conjunto de componentes individuais em um produto acabado durante a fabricação. A estação pode adaptar a altura e a iluminação da bancada de trabalho de acordo com as características físicas e habilidades visuais de uma pessoa. Ela também inclui recursos como óculos de rastreamento da visão para coletar informações sobre a carga de trabalho mental.
Isso traz mais informações sobre as necessidades individuais de cada pessoa, disse o coordenador do projeto, cientista da computação e professor da Universidade de Helsinque, na Finlândia, Giulio Jacucci.
“Você encontra diferenças interessantes entre quanto devem fazer a máquina e a pessoa, assim como sobre quanto a máquina deve tentar dar orientação e de que forma”, disse Jacucci. “É ago importante, que mostra o lado prático desse trabalho”
Ainda assim, ambientes equipados com cobots, que são capazes de explorar e responder totalmente aos estados mentais das pessoas em ambientes da vida real, ainda podem demorar alguns anos, disse ele.
“É tão complexo porque há toda a parte mecânica, além de tentar entender o estado das pessoas a partir de seus estados psicofisiológicos”, disse o professor Jacucci.
Enquanto isso, como as novas tecnologias podem ser usadas de maneiras muito mais simples para melhorar o local de trabalho, o Co-Adapt também explorou a digitalização de maneira mais ampla.
Robôs a favor do ser humano
Outra área de estudo era o software que permite o “agendamento de turno inteligente”: ele organiza os períodos de trabalho dos trabalhadores com base em suas circunstâncias pessoais. Foi demonstrado que a abordagem reduz as licenças médicas, o estresse e os distúrbios do sono entre os trabalhadores da área de assistência social e da saúde.
“É um exemplo fantástico de como a capacidade de trabalho melhora porque usamos conhecimento baseado em evidências de como ter horários informados sobre o bem-estar”, disse o professor Jacucci.
Segundo ele, concentrar-se no indivíduo é a chave para o futuro das ferramentas digitais e robótica bem integradas. “Digamos que você tenha que colaborar com algum robô em uma tarefa de montagem”, disse o professor Jacucci. “A questão é: o robô deveria estar ciente de minhas habilidades cognitivas e outras? E como devemos dividir a tarefa entre os dois?”.
A mensagem básica do projeto é que existe muito espaço para melhorar e ampliar os ambientes de trabalho. “Isso mostra quanto potencial inexplorado existe”, disse o professor Jacucci.
Esta notícia foi originalmente publicada na Horizon, a revista de pesquisa e inovação da União Europeia. Leia o original em inglês.
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