Associação de profissionais de investimentos aponta informações “excessivas e complexas” solicitadas pela União Europeia
O CFA Institute, associação global de certificação de profissionais de investimentos, divulgou nesta quarta-feira (10) um relatório em que critica as “informações sobre sustentabilidade excessivas e complexas” adotadas pela União Europeia como parte dos esforços dos países da região para avançar na agenda ESG.
O Relatório de pesquisa do CFA Institute sobre o quadro regulatório de ESG na União Europeia (link para download no final do texto) reconhece que a legislação da UE sobre finanças sustentáveis e a crescente demanda de investidores europeus impulsionam os gestores de ativos a considerar fatores ESG em suas estratégias de investimento. Mas, para o CFA, há desafios a serem enfrentados que incluem “dados ESG não confiáveis, altos custos de coleta de dados e a necessidade de treinamento de pessoal”.
Além disso, segundo o CFA, “os investidores de varejo ficam confusos com informações de sustentabilidade excessivas e complexas, que provavelmente se tornarão mais complicadas com o aumento dos relatórios de sustentabilidade sob a nova estrutura ESRS [European Sustainability Reporting Standards, ou Normas Europeias para Relatórios de Sustentabilidade]”.
O instituto afirma que “esclarecer a linguagem da Sustainable Finance Disclosure Regulation da União Europeia [SFDR, ou Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis ] pode melhorar as divulgações ESG e reduzir o greenwashing”.
Na análise do CFA, os principais problemas com o Regulamento de Taxonomia da UE são “divulgações complexas” e “falta de dados ESG comparáveis”. Por isso, os entrevistados pela pesquisa apontaram que os reguladores globais deveriam buscar garantir classificações ESG mais transparentes.
Por meio de seu Plano de Ação de Finanças Sustentáveis, a Comissão Europeia (CE) busca, desde 2018, redirecionar os fluxos de capital para a sustentabilidade e apoiar a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC acima dos níveis de temperatura pré-industrial. Nos últimos seis anos, a União Europeia introduziu vários regulamentos e diretivas importantes, juntamente com orientações da European Securities and Markets Authority [ESMA, ou Autoridade Europeia de Valores Mobiliários e Mercados], para combater o greenwashing e garantir a transparência nas finanças sustentáveis.
Para evitar redundância nos relatórios das empresas europeias, os reguladores da UE têm feito esforços para alinhar os padrões europeus ESRS e o International Sustainability Standards Board (ISSB). “A governança corporativa continua sendo um desafio na região, no entanto, devido à autoridade tradicional dos estados membros da UE sobre as leis societárias”, aponta o CFA.
- Newsletter ESG Insights – Grátis: receba um resumo semanal de notícias no seu e-mail.
Recomendações do CFA para a União Europeia
O relatório é baseado em pesquisa realizada em dezembro pelo CFA Institute com seus associados nos estados membros da UE. Aborda diversos aspectos da direção atual e futura da política regulatória sobre investimentos ambientais, sociais e de governança (ESG).
O instituto aponta que o Plano de Ação de Finanças Sustentáveis (Sustainable Finance Action Plan) da CE fez “progressos notáveis” na regulamentação de finanças sustentáveis, com foco na transparência, integração ESG e harmonização global. Também apresenta recomendações:
- Para redirecionar o capital para atividades sustentáveis, os reguladores da UE devem continuar a liderar a agenda global de sustentabilidade e desenvolver requisitos e taxonomias de divulgação ESG personalizados alinhados com as necessidades do mercado financeiro.
- A terminologia ESG clara e consistente em toda a estrutura legislativa é crucial para uma implementação uniforme e redução da variabilidade da interpretação das regras.
- Enfrentar o desafio de dados ESG não confiáveis e custos associados é essencial para a conformidade com os requisitos atuais de divulgação.
- Durante a revisão do SFDR, a Comissão Europeia deve esclarecer o sistema de categorização de fundos 9 para simplificar as divulgações ESG para os investidores e mitigar os riscos de greenwashing.
Baixe o Relatório de pesquisa do CFA Institute sobre o quadro regulatório de ESG na União Europeia (em inglês).
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
- Desmatamento e perda de biodiversidade são ameaça à segurança alimentarPerda da cobertura florestal provoca um desequilíbrio em toda a cadeia alimentar dos ecossistemas
- Novas regras podem dificultar entrada de produtos agrícolas brasileiros na EuropaLegislação que reforça fiscalização sobre produtos gerados sem respeito ao meio pode dificultar interesses comerciais do Brasil
- Democratizando a felicidade no trabalho: revendo a escala 6×1Esquema de trabalho 4×3 ainda é um privilégio de uma elite corporativa, enquanto maioria enfrenta longas jornadas
- Projeto de mercado de crédito de carbono volta à CâmaraCom a aprovação no Senado com mudanças, texto retorna para nova análise dos deputados
- Novo plano de restauração pode deslanchar o Código FlorestalAté 2030, o Brasil pretende restaurar 12 milhões de hectares com a implementação do Código Florestal pelo Planaveg
- Capital do ouro ilegal resiste a operações contra o garimpo na AmazôniaAs operações contra o ouro ilegal levaram à revolta dos garimpeiros, que tentam retomar a atividade
- Flexibilização da legislação impulsiona o desmatamento do Cerrado na BahiaDiferentemente da Amazônia, onde a ilegalidade é regra, no Cerrado baiano é o desmatamento autorizado que mais preocupa
- Crise climática, social e da biodiversidade estão interligadasRevisar o Código Florestal, fortalecer práticas agroflorestais e fazer a transição para um agronegócio de baixo carbono são algumas das ações fundamentais para o Brasil reduzir suas emissões
- Natura recebe certificação como Empresa B pela quarta vez consecutivaO principal destaque da pontuação foi o avanço na geração de renda e nas iniciativas voltadas para o bem-estar das consultoras de beleza da marca
- Como as hidrelétricas estão acabando com os peixes no Rio MadeiraSegundo cientistas, as centrais hidrelétricas da Bacia do Madeira afetam o ciclo hidrológico e impactam os padrões migratórios dos peixes