Primeiro dia de evento trouxe perspectivas sobre papel brasileiro e do setor privado frente aos desafios climáticos
POR BÁRBARA VETOS
“A discussão aqui é quase como construir um plano ESG para a economia do Brasil.” Foi assim que Marcelo Furtado, head de sustentabilidade da Itaúsa e um dos organizadores do evento, resumiu o primeiro dia do Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas. O encontro teve início nesta segunda-feira (26/2) em São Paulo, com painéis que se estendem até esta terça-feira (27/2).
O fórum é um dos eventos paralelos ao G20 – cúpula que será sediada no Brasil em 2024 – e contou com a presença de autoridades e referências nacionais e internacionais no assunto. A organização foi realizada pelo Instituto Arapyaú, Instituto AYA, Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto Igarapé, Instituto Itaúsa, Open Society Foundations e Uma Concertação pela Amazônia.
Temas como uma economia global sustentável, as perspectivas para o financiamento climático e a transição energética, e o papel do Sul Global foram abordados durante as apresentações do primeiro dia. Também foi debatido como os setores público e privado devem agir no enfrentamento à crise climática.
Segundo Furtado, é necessário pensar em um novo modo de gerir a economia. “De um lado, estamos falando sobre transformação do modelo econômico. Do outro, sobre como vamos financiar essa transição”, explica, em entrevista ao ESG Insights. Para ele, a intenção é chamar a atenção do G20 para uma economia que seja positiva para o clima, para a natureza, e para as pessoas.
O protagonismo em potencial do Brasil
Uma das questões trazidas no evento foi o papel do Brasil na construção de uma economia mais sustentável, assim como as oportunidades que podem surgir a partir da participação brasileira e dos encontros do G20.
“Vocês têm sorte de serem brasileiros. Vocês têm uma vantagem competitiva, mas precisam pensar e explorar isso”, diz Paul Polman, ex-CEO da Unilever. O holandês fez uma análise de como o Brasil pode atuar efetivamente na elaboração de soluções para um mundo em constante transformação.
Segundo ele, não existe lugar melhor para abordar esses desafios do que o Brasil. Mas, segundo o empresário, é preciso que o país realmente queira fazer isso. “Eu sempre ouço que o Brasil é o país do futuro. Está na hora de dizer que vocês são o Brasil do futuro hoje.”
Para Furtado, o olhar externo de Polman foi extremamente potente. “Precisamos refletir a falta de alinhamento das nossas políticas públicas, conhecimento acadêmico e capacidade de engajamento do setor privado para acordos pré competitivos na linha de soluções”, reforça. Na sua visão, a sensação que Polman expressou em seu discurso é a de que o Brasil não está olhando para seus desafios de maneira estratégica.
O papel das empresas
Reiterando o que foi discutido ao longo do evento, Furtado reforça: “Precisamos criar mecanismos inovadores de financiamento e investimento e alinhar essas estratégias, juntando a potência das ações públicas com a atuação das empresas”.
No setor privado, o especialista explica que, se as empresas não entenderem o rumo que o mundo está tomando e as questões ESG, é possível que seus negócios não sobrevivam às transformações. Um modelo que conta com uma economia de baixa emissão, alta resiliência, conectada com regeneração de sistemas e enfrentamento das desigualdades.
“Os investidores, olhando pela lente do risco, vão cobrar esse comportamento. Pela lente da oportunidade, vão procurar empresas que estejam alinhadas com essa visão”, diz. Para ele, o papel do investidor também é ajudar a levar o país a um novo patamar, gerando emprego, renda e uma economia próspera.
“A lição que tiramos daqui é muito positiva. Talvez, nos próximos anos, tenhamos novas oportunidades no Brasil devido ao G20 e à COP30”, diz Furtado. Ambos os eventos acontecerão no Brasil, em 2024 e 2025, respectivamente. “Podemos ter um ambiente muito próspero para empresas e investidores.”
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