Relatório da KPMG avalia a necessidade de acelerar a implementação de energias renováveis para respeitar o Acordo de Paris
A maioria das empresas globais (80%) concorda que acelerar as implementações de energia renovável é uma questão urgente e que exige mais atenção para cumprir as metas do Acordo de Paris. É o que revela a pesquisa Mudando a Trajetória para Escalar as Energias Renováveis, realizada pela KPMG. O estudo foi feito com 110 respondentes, de 24 países e jurisdições.
Em 2023, o Brasil bateu recorde de produção de energia renovável, que representou 90% de toda a energia gerada no país. No entanto, o ritmo das implementações renováveis não é suficiente para contribuir de modo significativo e alcançar a ambição do Acordo de Paris de limitar o aumento das temperaturas globais.
De acordo com a pesquisa, 84% das empresas relataram que os desafios atuais do mercado estão causando atrasos significativos e, em alguns casos, até mesmo o abandono de projetos de energia renovável.
A Agência Internacional de Energia (IEA, pela sigla em inglês) estima que os requisitos minerais para tecnologias de energia limpa precisarão quadruplicar até 2040 para que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas.
CEOs do ramo estão confiantes a respeito de crescimento econômico fruto da transição energética
Quase 90% dos CEOs globais de energia, recursos naturais e produtos químicos (ERC) estão demonstrando altos níveis de confiança em relação às perspectivas de crescimento para suas empresas e para o ramo como um todo. Esse sentimento pode ser decorrente da recuperação econômica e da crescente importância do setor em impulsionar a transição energética no mundo. O estudo Global Energy CEO Outlook 2023, da KPMG, foi realizado com 1.325 CEOs de 11 países, com empresas com receitas anuais acima de US$ 500 milhões e um terço delas com mais de US$ 10 bilhões em receita anual.
Essa confiança também se estende para a economia global e supera os níveis desde o início da pandemia. Três em cada quatro CEOs de ERC (75%) demonstram confiança geral na economia nos próximos três anos. No ano passado, eram 71%.
Embora o clima seja otimista, os CEOs também manifestaram preocupação com as incertezas geopolíticas e políticas (19%), as questões operacionais (17%) e as preocupações regulatórias (16%) como fatores de riscos para esse crescimento.
A estratégia adotada para superar esses desafios é a demonstração de uma integridade pessoal que gere confiança para o enfrentamento dessas situações. A maioria (72%) diz estar preparada para se desfazer de uma parte lucrativa de seus negócios se isso estiver prejudicando a sua reputação. Com o aumento de pautas geopolíticas nos conselhos de administração, 58% dos CEOs da ERC dizem que tomariam uma posição pública em relação a uma questão política ou socialmente controversa.
Outro ponto evidenciado pelo documento foi o reconhecimento dos CEOs sobre a importância e o potencial da inteligência artificial. Eles estão começando a investir e explorar como suas organizações podem usar melhor a tecnologia. Mais da metade (64%) concordam que investir em IA generativa é uma prioridade. Entre os respondentes, 48% esperam ver um retorno sobre seus investimentos em três a cinco anos.
10 barreiras para a implementação de fontes renováveis, segundo estudo da KPMG
- Estrutura de mercado – Muitos mercados de energia foram projetados para incentivar a geração convencional de energia, como o carvão e o gás natural, em vez de recursos flexíveis de baixo carbono܂ Algumas regiões no mundo estão considerando alterações nos seus modelos de operação para acomodar o crescimento das energias renováveis, seja revisitando/revisando limites de emissões ou explorando mercados de capacidade. O uso mais amplo de ações de resposta à demanda, sinais mais fortes de preço de carbono e incentivos para armazenamento de longa duração podem ajudar a acelerar a transição para as energias renováveis.
- Acesso ao capital – Financiar a transição energética requer um enorme volume de capital. A Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, pela sigla em inglês) estima que os investimentos globais acumulados necessários para alcançar as metas climáticas do Acordo de Paris sejam de US$ 5 trilhões anualmente ao longo de 30 anos. As altas taxas de juros e a inflação na cadeia de suprimentos tornaram mais difícil atrair investimentos em alguns projetos e empresas de energias renováveis. É necessário que os governos, operadores de sistema e reguladores criem mecanismos e incentivos que facilitem a colaboração entres stakeholders para a expansão e desenvolvimento das novas tecnologias e novas fontes renováveis, em prol ao ganho de escala e redução dos custos de capital.
- Investimento em infraestrutura de rede – Investimentos em redes que viabilizem a rápida integração de energias renováveis devem facilitar a flexibilidade do lado da demanda que os clientes de eletricidade podem fornecer. Para isso, eles devem promover tecnologias inovadoras, como inteligência artificial e aprendizagem de máquina (machine learning – ML), que, cada vez mais, são inseridas nas operações e manutenções das redes.
- Planejamento e permissão – É necessário muito tempo para implementar projetos de energias renováveis se forem consideradas as etapas desde a sua concepção, licenciamentos, implantação dos projetos e da infraestrutura necessária para suportá-los. Umas das iniciativas positivas seria acelerar as aprovações necessárias de planejamento e licenciamento com o cuidado de que os responsáveis por tomar as decisões tenham conhecimento e dados suficientes sobre as novas tecnologias, seus impactos e os benefícios claros e tangíveis dos projetos às suas comunidades.
- Acelerar as soluções de armazenamento – O armazenamento de energia é necessário para preencher as lacunas de ausência de luz solar e vento e manter o fornecimento confiável de eletricidade. No entanto, isso precisa ser financeiramente viável. Uma alternativa seriam os contratos de longo prazo que garantam fluxos de receita previsíveis que atraiam financiamento, pagamentos da capacidade apoiados pelo Estado, garantias de renda e regras de serviços complementares que incentivem o armazenamento.
- Questões relacionadas à cadeia de suprimentos – A pandemia da covid-19 expôs os desafios na expansão das energias renováveis quando as cadeias de suprimento passaram por rupturas. Por isso, garantir que elas sejam resilientes e confiáveis é uma das bases para o rápido ganho de escala das energias renováveis. A diversidade geográfica de fornecedores – minerais críticos e fabricação de equipamentos atualmente estão concentrados em poucos países –, bem como o financiamento de baixo custo são soluções para que os projetos de energia renováveis se desenvolvam mais rapidamente.
- Acesso a matérias-primas críticas – É necessário acesso competitivo a uma grande quantidade de matérias-primas, como cobalto, níquel, grafite, cobre e lítio. Para tanto, é importante a expansão da capacidade da mineração e a diversificação das fontes de matérias-primas críticas. Também é preciso o desenvolvimento de cadeias de suprimento e modelos de negócio que promovam uma economia circular, o design de produtos com maior durabilidade e capacidade de reciclagem e reutilização.
- Natureza e biodiversidade – As mudanças climáticas já estão acelerando a perda de habitat e a extinção de espécies. É preciso reconhecer os potenciais impactos negativos do desenvolvimento de energias renováveis em relação à natureza e à biodiversidade e tomar medidas para reduzi-los ou evitá-los. É importante o envolvimento proativo de especialistas ambientais na escolha de locais para projetos, priorizando tecnologias que mitigam os impactos sobre o habitat e as espécies.
- Licença social para operar – Os desenvolvedores precisam obter licenças para operar na forma de autorizações e aprovações governamentais. No entanto, cada vez mais eles também precisarão de licenças que considerem o grau de aceitação de um projeto entre as comunidades, o público em geral e demais stakeholders.
- Mercados emergentes – A comunidade global poderá se ver dependente de combustíveis fósseis por mais tempo do que o previsto, dados os imperativos de segurança energética e acessibilidade se não houver aceleração da implementação de energias renováveis em mercados emergentes. O cumprimento das metas climáticas do Acordo de Paris depende fortemente da adesão desses mercados também.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
- Desastres climáticos no Brasil aumentaram 460% em relação aos anos 1990Estudo analisou dados de 1991 a 2023 e constatou que cada aumento em 0,1 °C na temperatura média global do ar provocou 360 novos registros de desastres climáticos no país
- Crise climática condena uma geração inteira a nascer e viver sob calor extremoMesmo em um cenário otimista quanto às metas do Acordo de Paris, uma geração inteira ainda terá de viver sob extremos climáticos
- Conferências sobre o clima: muitas metas e pouco progressoReuniões e documentos cheios de boas intenções se sucedem desde 1972, enquanto seguimos sofrendo com os efeitos das mudanças climáticas
- Projeto de cosméticos sustentáveis assegura renda a comunidades na AmazôniaO Projeto Cosméticos Sustentáveis da Amazônia congrega 19 associações de produtores focadas na extração da biodiversidade amazônica
- Brasil tem chance de liderar diálogo global sobre a questão climáticaCaberá ao Brasil liderar uma cúpula sobre mudanças climáticas que pode ser decisiva em um momento crítico para o planeta
- Lei que regula mercado de carbono no Brasil é sancionadaIndústrias poluentes poderão compensar emissões por meio da compra de créditos de carbono para fins de preservação ambiental
- Desmatamento e perda de biodiversidade são ameaça à segurança alimentarPerda da cobertura florestal provoca um desequilíbrio em toda a cadeia alimentar dos ecossistemas
- Novas regras podem dificultar entrada de produtos agrícolas brasileiros na EuropaLegislação que reforça fiscalização sobre produtos gerados sem respeito ao meio pode dificultar interesses comerciais do Brasil
- Democratizando a felicidade no trabalho: revendo a escala 6×1Esquema de trabalho 4×3 ainda é um privilégio de uma elite corporativa, enquanto maioria enfrenta longas jornadas
- Projeto de mercado de crédito de carbono volta à CâmaraCom a aprovação no Senado com mudanças, texto retorna para nova análise dos deputados