Jornadas longas e duplas e desafios relacionados à saúde mental e menstrual marcam trajetória das profissionais no Brasil e no mundo
Mais da metade das mulheres brasileiras (53%) dizem estar vivendo níveis maiores de estresse do que um ano atrás. Longas horas de trabalho, jornada dupla e estigmas relacionados à saúde mental e menstrual persistem na vida das profissionais. É o que revela a pesquisa Woman @ Work 2024, realizada pela consultoria Deloitte.
Mulheres pertencentes a grupos étnicos minorizados no país apresentam níveis de estresse ainda mais elevados, chegando a 56%. No entanto, apenas 28% desse grupo relatam obter apoio adequado de seus empregadores. Outras 22% se sentem confortáveis para discutir a saúde mental no local de trabalho.
Além disso, 14% das entrevistadas acreditam que os direitos das mulheres se deterioraram no seu país de origem durante o último ano. O número sobe para 17% no Brasil. Entre as preocupações das brasileiras estão os direitos das mulheres (52%), sua segurança pessoal ao viajar para/ao trabalho (49%) e financeira (48%).
Ao todo, o estudo ouviu 5 mil mulheres em 10 países, entre outubro de 2023 e janeiro de 2024. No Brasil, foram entrevistadas 500 profissionais que fazem parte de diferentes setores da indústria. As brasileiras têm entre 18 e 64 anos e quase metade (43%) ocupa cargos não-gerenciais.
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Jornadas longas e duplas impactam saúde mental de trabalhadoras
Flexibilidade e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal são essenciais para que um(a) funcionário(a) permaneça na organização. No Brasil, mulheres que pensam em trocar de emprego citam a falta de flexibilidade nos horários (26%) e salário e pacote de benefícios não competitivo (26%) como os principais motivos.
Já as brasileiras que deixaram seus trabalhos no último ano citam remuneração inadequada (24%), mau equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (18%) e falta de oportunidade de aprendizado e desenvolvimento (18%). Somente 12% das mulheres no país acreditam que a empresa em que trabalham toma medidas concretas para cumprir o seu compromisso com a diversidade de gênero.
Enquanto na média global e no total da amostra brasileira um quinto das entrevistadas dizem trabalhar a mais do que o contratado, entre as brasileiras que pertencem a grupos étnicos minoritários o volume é de quase um terço das entrevistadas (29%).
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Home office x trabalho híbrido
As experiências de trabalho híbrido estão melhorando, mas algumas mulheres dizem ter tido que ajustar suas vidas profissionais e pessoais após a introdução de políticas de retorno ao escritório. Entre as brasileiras que voltaram a trabalhar presencialmente em tempo integral, 26% relataram impacto na saúde mental e aumento nos níveis de estresse.
Em relação à produtividade, 16% das entrevistadas no Brasil disseram que o rendimento no trabalho caiu e 14% consideram um impacto negativo no cumprimento das responsabilidades de cuidado. Ainda no mesmo cenário de retorno ao trabalho presencial, 17% afirmaram que a medida impactou negativamente no ponto de vista financeiro e 27% tiveram de mudar de casa para atender às novas expectativas.
Menos mulheres no Brasil estão enfrentando exclusão em ambientes de trabalho híbridos (33%) em comparação com o ano passado (48%), e as entrevistadas relatam melhores experiências com flexibilidade (29% em 2024, contra 42% em 2023) e previsibilidade (31% em 2023, ante 39% em 2023) em seus padrões de trabalho.
Trabalho doméstico permanece maior para mulheres
Segundo estudo, as mulheres ainda têm maior responsabilidade pelo cuidado infantil, mesmo convivendo com um parceiro. Entre as brasileiras, 68% dizem ser as principais responsáveis pelos cuidados das crianças, enquanto 40% são as principais responsáveis pelo cuidado com outros adultos. Na pesquisa global, esses números são menores: 48% e 32%, respectivamente.
Sobre a limpeza e outras tarefas domésticas, 43% das brasileiras assumem a responsabilidade sozinhas, 25% relataram uma divisão igual e 23% pagam por esse serviço. Globalmente, 36% das mulheres afirmam assumir a responsabilidade sozinhas, 21% dividem igualmente e 23% pagam pelo serviço.
Como a saúde mental e menstrual afeta as mulheres
A pesquisa da Deloitte também aponta o impacto das responsabilidades domésticas na saúde mental: mulheres com a maior parcela de responsabilidade doméstica têm muito menos probabilidade de relatar boa saúde mental do que outras.
A quantidade de entrevistadas brasileiras que declara ter tirado tempo fora do trabalho no último ano por motivos de saúde mental (34%) se aproxima do quantitativo global (33%). No entanto, as brasileiras estão menos propensas a falar sobre a própria saúde mental no ambiente de trabalho (apenas 28% disseram se sentir confortáveis) do que as entrevistadas no mundo todo (33%).
O estudo também revela que muitas brasileiras continuam a trabalhar mesmo sofrendo quadros de dor, desconforto ou outros sintomas: as entrevistadas que vivenciaram problemas relacionados à saúde feminina relataram ter passado por altos níveis de desconforto devido à menstruação (40%) ou menopausa (27%) e ter trabalhado mesmo assim, sem tirar licença. O tema da fertilidade também faz parte dos desafios enfrentados: 21% afirmam que reportaram esse fator como motivo para tirar licença aos seus empregadores e tiveram impacto negativo na carreira.
Muitas vezes, as mulheres relutam em discutir essas questões no local de trabalho. Entre as brasileiras que tiraram folga por problemas de saúde relacionados à menstruação (14% da amostra), menopausa (10%) ou fertilidade (7%) e não revelaram o motivo ao seu gestor, 33% dizem que não se sentiram confortáveis para falar de assuntos pessoais. Outras (23%) afirmam que assuntos relacionados a menstruação, menopausa ou fertilidade são muito incômodos para serem discutidos no ambiente profissional e 20% se dizem preocupadas sobre falar desses temas e ter um impacto negativo no desenvolvimento da própria carreira.
Assédio sexual e microagressões
As mulheres seguem se sentindo inseguras no local de trabalho, e registram que comportamentos não-inclusivos continuam a em se repetir. No Brasil, 49% das mulheres estão preocupadas com sua segurança no ambiente profissional, durante o trajeto ou em viagens a trabalho.
Sobre os motivos que as fazem se sentir mais inseguras, as entrevistadas afirmam que o principal é o fato de lidarem com clientes que já as assediaram ou se comportaram de uma forma que as fizeram se sentir desconfortáveis (24%). Outras alegam que o local de trabalho se encontra em uma área insegura, onde acreditam que poderiam ser assediadas ou atacadas (18%); 13% já foram assediadas por um colega de trabalho, incluindo assédio sexual ou perseguição, e 13% já foram assediadas enquanto viajavam a trabalho, incluindo assédio sexual.
No último ano, mais de um terço (35%) das profissionais brasileiras relataram ter sofrido microagressões, contra 31% na pesquisa global. Situações de assédio sexual somam 4% entre as brasileiras e 4% globalmente, e outros tipos de assédio chegam a 8% nos dois cenários. No entanto, esses comportamentos, frequentemente, não são relatados: 40% das mulheres brasileiras que sofreram assédio sexual não reportaram o caso à sua organização e 77% que vivenciaram microagressões também optaram por não denunciar.
Confira a pesquisa na íntegra.
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