Adesão de normas do ISSB pode ajudar empresas a garantirem maior transparência, oportunidades e redução de riscos aos investidores
POR BÁRBARA VETOS
“O papel do Brasil é de liderança”, afirma Cesar Sanches, superintendente de sustentabilidade da B3, sobre aplicação de padrões ESG pelas empresas. Com a resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2023, o país passou a ser o primeiro no mundo a exigir a adoção de normas internacionais definidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), da IFRS Foundation.
“É um momento importante que temos entre G20 e COP30, em que o mundo inteiro olha para cá e podemos usar isso para conquistar maior tração, liderança e protagonismo”, explica Sanches. Ele defende que, mais do que na implementação do ISSB, o país também tem potencial para se sobressair na pauta de descarbonização.
O ISSB estabelece um conjunto de critérios para relatórios de sustentabilidade e tem como objetivo padronizar e garantir maior transparência na divulgação de dados de caráter ESG por parte das companhias. “Com isso, todo mundo ganha: os investidores, as empresas, a sociedade”, comenta o superintendente.
De acordo com uma pesquisa divulgada em abril pela PwC Brasil, a maior parte das empresas está em fase de entendimento das normas. Quase 60% ainda não definiram os papéis e as responsabilidades para a preparação das divulgações relacionadas à sustentabilidade.
Sanches explica que a expectativa não é que as organizações apresentem um relatório perfeito logo no primeiro ano de adoção. “Tudo isso é uma construção. O importante é iniciar esse trabalho e fazer o melhor possível.”
Integração com GRI e outros padrões
A IFRS Foundation anunciou no último mês algumas mudanças nos padrões do ISSB, a fim de promover maior objetividade e consistência nos relatórios de sustentabilidade.
A fundação disse que vai buscar integrar de forma mais efetiva as normas ISSB com parâmetros definidos por outros órgãos, como o Transition Plan Taskforce, GHG Protocol (Protocolo de Gases de Efeito Estufa, GEE), Carbon Disclosure Project (CDP), Taskforce on Nature-Related Financial Disclosures (TNFD) e Global Reporting Initiative (GRI), o principal padrão utilizado pelas empresas para a criação de relatórios de sustentabilidade corporativa.
Segundo o ISSB, mais de 20 jurisdições (países ou regiões) já decidiram usar ou estão tomando medidas para introduzir esses padrões em seus quadros legais ou regulatórios. Juntas, elas representam quase 55% do produto interno bruto (PIB) global e mais de 40% da capitalização de mercado global.
Divulgação de relatórios baseados no ISSB ainda é facultativa
A resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), publicada no final do ano passado, tornou a divulgação de informações relacionadas a práticas ESG facultativa a partir de 2024 e obrigatória a partir de 2026 por empresas de capital aberto.
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Na visão do profissional da B3, a CVM 193 foi uma boa estratégia adotada pelo Brasil. “Isso vai colocar a gente na liderança. Vai manter, na verdade, porque já estamos na liderança nesta frente.”
Ele explica que é um processo novo para as empresas, que estão acostumadas a olhar e pensar nesses dados no passado. A implementação das normas ISSB foi um dos temas abordados por Sanches e outros palestrantes durante a Febraban Tech 2024, realizada na semana passada em São Paulo. “Quando olhamos para o futuro, não é tentando prever, mas exercitar alguns cenários para construir estratégias para uma organização mais resiliente e um futuro mais justo.”
Importância e desafios na adoção de normas de sustentabilidade pelas empresas
Segundo o levantamento da PwC, os principais desafios das companhias na adoção de normas de sustentabilidade estão relacionados à integração entre as áreas da organização que atuam em diferentes frentes, à preparação das informações quantitativas sobre os riscos e as oportunidades relacionados à sustentabilidade. Outro problema observado foi a necessidade de publicar as informações sobre sustentabilidade na mesma data que as demonstrações financeiras.
Para Sanches, além da dificuldade de coleta e compreensão da materialidade dos dados, existe a questão das emissões financiadas (escopo 3) – emissões indiretas e que dizem respeito à atividade do restante da cadeia de trabalho.
“Existe todo um esforço para ajudar os atores de mercado a conseguirem um melhor reporting, com mais transparência, acesso à informação, oportunidades de investimento, e reduzindo riscos relacionados a greenwashing”, comenta. Como consequência, a empresa pode ter ganhos de reputação e interoperabilidade, ajudando a tornar-se mais competitiva, inovadora, e eficiente em sua gestão.
“Eu encaro [a adoção de normas] não como uma carga extra, mas como uma oportunidade de ser mais vocal, de levar essa informação para investidores em todo o mundo e mostrar que fazemos um trabalho excelente e somos líderes nisso”, enfatiza o superintendente da B3.
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